“Para
iluminar algo, precisa-se de luz, não se pode querer levar luz a
algum lugar se você já não tiver meios de produzi-la
por si só. Um agente
transformador é, antes
de tudo, alguém que se
transforma: por isso consegue levar transformação. Um
professor seguindo essa lógica é alguém que tem uma posição de
aprendiz, alguém interessado, portanto, interessante.
(x²
– ab.y/3)”
Gervinho
Raimundo
Gervársio era um dos maiores catequistas da
Companhia
de Jesus. Atribui-se a
ele o método didático
que era tido como um dos mais eficazes e
que ficou conhecido como a “didática Gervinho”.
Raimundo
não era com os outros sacerdotes, que
olhavam
os índios de cima pra baixo, sem a devida reverência; ao
contrário destes, Raimundo
enxergava sua cultura
ou seus conhecimentos prévios como supeirores.
Acreditava que o
substrato de humanidade que os indígenas traziam eram tão valiosos
quanto os de seu lugar de origem.
Raimundo ficava completamente fascinado pela cultura dos povos
nativos da região.
Em
função de sua irremediável
lealdade, pedia licença
à seu Deus
para que pudesse ser
licenciado, a fim de
embarcar nos rituais e tradições dos tapuias.
Gervásio
tirou sua bendita bata, trajou-se de penas e cipós, pintou seu corpo
- sem vergonha de sua barriga branca e felpuda - e participou de um
ritual onde aspirou
um pó pelo nariz e tomou
um fermentado típico dos tapuias.
Durante
o ritual, todos estavam
sentados em roda, com uma fogueira no meio, enquanto passava uma
figura com o rosto encoberto por uma máscara de palha (julgou ser o
sacerdote daquela tradição) proferindo
dizeres que para Gervásio
eram só fonemas projetados, mas que ainda
que não pudesse assimilar o significado arrepiavam-lhe
os pelos
do braço. O xamã regava as pessoas como se elas fossem plantas,
prosseguindo
seu projeto de encantamento, enquanto os efeitos do chá amoleciam o
corpo e faziam com que o
pensamento de Gervásio
se deslocasse, trazendo-lhe uma experiência diferente do que já
havia sido apresentado dentro de sua doutrina.
Saiu
do ritual esclarecido e transformado, exercendo
sua função com muita beleza no gesto, transitando entre as
tradições de sua cultura com a cultura a quem se apresentava.
Apesar
de ter antecipado anos de teoria pedagógica apenas com alguns gestos,
não demorou muito tempo e Gervásio passou a ser persseguido pela
própria igreja a quem dedicava seu trabalho. Foi
execrado pelos seus colegas, que, taxando-o de infiel, além de excomungá-lo, arrumaram uma boa desculpa para
executá-lo.
Antes
de morrer Gervinho pensou: “Essa tribo é atrasada mermão!
Eles querem acabar com a ignorância
mas a educação é
contra a lei é contra a educação.”
Apenas
praticamente século e meio passados de sua morte, Gervásio
teve
seu trabalho reconhecido pela comunidade católica, e foi canonizado
pelo papa Pio XII, sendo hoje conhecido como São Gervásio, ou
apenas “Gervinho”,
como gostava de ser chamado.
Moral
da história (reflexões para abordagens especiais em literatura e cultura digital):
Hipóteses
contrárias não se anulam, se acumulam!
O professor transformador é aquele que se permite transformar. O professor que assume uma ideologia é aquele que ao mesmo tempo tem a sua ideologia alongada o suficiente para compreender e comportar à dos seus aprendizes.
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